Um dia estava sentada em uma saleta onde trabalho e uma Maria veio sentar a meu lado. Maria é magra, parece ter sempre o rosto contraído, me passa algo nervoso, ansioso , áspero. Nunca quis conversar com ela, só me aproximo se tenho de tratar algo referente a trabalho. Maria sentou-se olhando para mesma parede que eu olhava e, de repente, começou a falar. Maria falou do marido, que um dia foi embora para morar com uma mulher deixando para trás ela e o filho. Passaram-se alguns anos e o marido voltou para os braços de Maria, pois, conforme ela disse, tinham um filho ! Fiquei meio desconfortável escutando estes fatos. Ela continuou falando, pois ignorava meu desconforto, contou que após alguns anos o marido estava traindo-a novamente. Maria estava nervosa, cheirava as roupas, examinava cuecas, olhava carteira e checava registros de ligações no celular dele ! Maria não falou em outra separação. Olhei para aquele rosto, magro, chupado e já com as marcas de idade. Maria não tinha viço. Maria não é feliz, mas nada quer mudar em sua vida...o que esperas Maria ? Que teu marido vá embora outra vez? Permanecer no inferno é bom ? Nada falei, limitei-me a “sim”, “é” e “que coisa”. Queria que Maria fosse embora !
A segunda Maria chegou para perguntar algo. Maria é diferente. Por vezes olhando-a vejo algo assexuado nela, nem menina nem menino, cabelos curtos. Lembro quando eram longos, um pouco desleixada com o corpo, possui grossas sobrancelhas. Está obesa. A segunda Maria, por um motivo qualquer falou no namorado apaixonado que tinha morrido há quinze anos e deixou tantas saudade que ela, apesar do passar dos anos não conseguia esquecê-lo. Perguntei-lhe quanto tempo tinha durado o namoro e, ela respondeu com a voz sumida “-Nove meses”. Olhei para ela e expliquei que em nove meses tudo são flores na vida de um casal que se gosta , já tinham se passado muitos anos e, conforme o caminhar do tempo, este namorado já deveria ter se transformado em apenas uma ótima lembrança. Maria abaixou a cabeça e disse : ”- Não consigo esquecê-lo...ele era tudo para mim. Quando arrumo um namorado, comparo com ele”. Suspirei e disse-lhe que um dia ela o esqueceria, mas lá no fundo, sabia que não seria assim. A segunda Maria vivia no passado, de passado e, de lá não queria sair. Olhei-a indo para sua sala e fiquei vendo o rastro de poeira bolorenta que ela deixou, poeira que era a vida da segunda Maria.
Chegou a terceira Maria ! Maria é alegre, viva , livre ! Gosto muito dela também. Sinto o cheiro de coisas novas quando ela passa. Parece que a terceira Maria impulsiona a vida sempre para a frente. Naquele dia, fiquei sabendo que era apenas um “parece”. Maria sentou-se já pedindo um pouco de minha atenção. Falou sobre o atual marido, que se juntou a ela sabendo que seu passado tinha sido movimentado e que tinha tido vários parceiros. Este homem aceitou tudo,mas somente no início. Maria estava há três meses sem fazer sexo ! O marido, quando Maria tocava nele, se encolhia e dava a entender que tinha nojo dela. Espantei-me. Olhei Maria e vi sua pele lisa, sedosa, os olhos vivos os fartos seios, enfim bonita e sensual...estaria aquele homem maluco ? Não, não estava maluco, como sempre este homem não sabe lidar com uma mulher totalmente livre. Aquele homem tem ouro nas mãos e não sabe fazer dele uma jóia. Não sabe aproveitar o que Maria lhe oferecia. Coitado. Tem vários homens assim e várias mulheres que se acuam e passam a vida achando que a liberdade é uma coisa feia ! Dei-lhe um conselho : “- Maria, arrume um homem para fazer sexo contigo, depois veja o que fazer, mas primeiro se satisfaça”. Maria levantou-se com um sorriso nos lábios e foi embora talvez para consultar sua agenda telefônica.
Três mulheres, três condutas, três insatisfações. Suspirei. As Marias passaram na sala onde eu estava e foram almoçar. Estavam risonhas. Falantes. Acomodei-me na cadeira , estava na hora de almoçar...