Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones...não, não amávamos nem um nem outro. Quando ele nasceu eu tinha onze anos, e comecei a gostar de rock progressivo aos 15...ele com quatro anos seguiu este gosto musical. Ele detestava aqueles sambas canções da época, mas curtia o Led Zeppelin, Emerson Lake and Palmer, Pink Floyd , fã incondicional de Jethro Tull, superou-me no aprendizado e me apresentou Eloy. Só discordamos quando o Genesis foi para as mãos de Phil Collins que eu detestava... O que tínhamos em comum? O respeito pelos animais, e a admiração da criação da natureza. E o nosso imenso respeito um pelo outro, coisa que eu descobri, alguns anos, atrás ser raro entre irmãos. Um encobria os segredos e confusões do outro para o resto da família. Era simples assim : nunca falávamos para ninguém o que o outro tinha feito de errado. Nossa mãe só veio a descobrir nossas travessuras muitos anos atrás delas terem ocorrido. O que mais nos unia : a liberdade que nossa mãe sabiamente nos proporcionou. Liberdade para fazermos o que queríamos da vida, contanto que não prejudicássemos os outros. Ele conhecia meus gostos e se ia comprar algo perguntava se eu queria que trouxesse para mim também. Acertava em cheio e lembro até hoje de umas camisetas lindas da antiga Company. Tínhamos qualidades e defeitos. De vez em quando tinha briga pelo espaço do quarto tomado por um imenso autorama que ele não gostava que eu usasse ou pela minha bagunça que sempre foi crônica, coisa que ele, perfeccionista e organizado detestava. Voaram algumas panelas em duas brigas, mas nada que mercúrio cromo na época não curasse! Não gostávamos de ambientes sufocantes e uma característica em comum era a entrada e saída de qualquer lugar que fossemos na hora em que desejássemos! Nada de “- Fica mais um pouco”, isto sempre nos desagradou. Bem, ele se foi. Perder um irmão é algo estranho, por mais que se more longe um do outro é como se perdêssemos um pouco de nossa identidade ...ficamos um pouco perdidos, sem entender o que aconteceu. Os dias vão passar, mas aquele pedaço vai ficar vazio, meio oco, meio dolorido nas horas em que olharmos para algo que o traga na lembrança. Este texto ficou guardado desde 06/2014. Nada mudei...só não lembro o motivo de não ter publicado